sobre poemas de amor e ódio | 2024#01
cuidado ao passar pela vida de poetas, cuidado também ao sair da vida de poetas. quem cruza nosso caminho fica imortal porque vira poesia. você quer ser um poema de amor ou de ódio?
a poesia não é matéria de ser explicada. é um negócio que tem definição sim, mas só é necessária pra quem não sabe sentir. quem é poeta sente. um bom poeta faz sentir, porque consegue transmitir a quem lê o sentimento. é isso: poesia se sente, primeiramente. depois se explica, e eu não estou aqui hoje para dar explicações.
sobre poemas de amor e ódio | 2024#01
quem é poeta sente ou, ao menos, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente - como diria fernando pessoa. nosso ofício é registrar sentimentos e sensações que os órgãos de sentido - todos os átomos do nosso corpo são sensíveis - captam. às vezes fingimos sim, mas também sempre e todas as vezes verdadeiramente sentimos o que escrevemos.
entre todas as emoções humanas, talvez aquela de que mais se escreva desde o início dos tempos em todos os lugares seja o amor. naturalmente, é de se esperar que o sentimento que move o mundo seja tema de tanta poesia. no meu caso, eu poeta, escrevi minha cota de poemas de amor também: os primeiros versos, se não me falha a memória, eram rimas infantis de amor, escondidas a uma chave de cadeado fuleiro em um diário e expostas e ridicularizadas ainda assim. eu não sabia, naquela época, que poemas de amor eram como cartas de amor - e que todas são ridículas, como disse também fernando pessoa, mesmo que tenha assinado como álvaro de campos para se poupar do vexame de defender as cartas de amor. se soubesse, então teria me defendido dizendo que afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas.
eu não tinha tal repertório, e pelo trauma me privei dos transbordamentos líricos-românticos sobre o papel mas guardei o olhar de poeta. entre alguns poemas de amor disfarçados de desejo (como se o desejo fosse aceitável e o amor não - na verdade ambos são rejeitados), escrevi poemas de ódio quando adolescente. ódio em forma de revolta e rancor desorganizados - abençoada seja a adolescência e suas experimentações.
quando leio os poemas de amor e de ódio do passado, entendo que eu não sabia o que era poesia, então considero minhas tentativas válidas como expressão mas como poesia propriamente dita não - faltavam metáforas pra falar sobre as dores e delícias que afligem o órgão que pulsa (não vou dizer qual, mas lembrem-se que tanto amor quanto ódio atravessam todas as vísceras).
quando voltei a exercitar a poesia, me redescobri fonte de muitos poemas de amor - dessa vez, poemas de verdade. muitos foram publicados. outros ainda estão nos blocos de notas onde aguardam a edição e a luz de olhares leitores. com os de ódio eu tenho que ser precavida. o rancor é uma arma que atira pela culatra mesmo que o disparo derrube o oponente. vale a pena me ferir também?
a aura de papel da pessoa poeta ofusca a verdade: poeta também é gente, poeta também sofre, poema também ama. e quando um poeta fala de amor, já se teme sua escrita, já se pressente o risco da caneta manchando de tinta a sua existência. a pessoa que escreve poesia só é verdadeiramente amada se esquecerem seu ofício.
só vê o ser humano dentro da pele de quem escreve poesia quem não sabe que é musa. e como eu poeta quero ser amada como gente também, eu escondo as poesias. e não teria outro jeito de fazer, afinal, amor é questão de tempo e a escrita é expressa, então meus poemas sempre chegaram com atraso. principalmente os de amor - de vários amores, mas principalmente os românticos. um deles, mostrei à musa: recebido e ignorado, não sei se lido, com certeza não comentado e provavelmente esquecido. os poemas de amor deixam dúvidas se as musas são felizes sendo inspiração, e a rejeição dos textos torna a gente mais poeta: é mais sentimento que surge pra se registrar.
paradoxo e complexo, os poemas de ódio são os que mais provam que poeta também é gente, mas é aí que mora o problema: gente pode morrer em represália, já a arte dura pra sempre, artistas podem ser imortais. nunca se deve dizer o nome das musas que inspiraram as escritas de ódio. elas não merecem, mas serão eternizadas. e isso não é gosto que se deve dar a quem nos provocou rancor.
então, se souber que alguém escreve poesia, tenha cautela em suas ações!
cuidado ao passar pela vida de poetas, cuidado também ao sair da vida de poetas. quem cruza nosso caminho fica imortal porque vira poesia. você quer ser um poema de amor ou de ódio?
poetas não aprenderam a amar
como cantava cássia, eu sou poeta e não aprendi a amar. e no atraso da poesia, entreguei meus versos a quem já não pode me querer, na esperança de transcender o tempo, matando ontem o pássaro com a pedra-poema atirada hoje. ser poeta é viajar no tempo e se espera sempre com alguns versos reescrever o futuro.
me manda? tô curioso.
enviei explicando não vou explicar nada. dessa vez o poema foi lido pela musa.
agora deu vontade de ler tudo, ele respondeu depois de ler.
tudo o que? é só isso que escrevi. rascunhar uns versos não é escrever a história e não muda o fato de que a poiesis é só uma criação imperfeita do que eu poeta sinto. minhas palavras não mudam a decisão da musa, mas ao menos posso viver no espaço-tempo da poesia, um momento-lugar de imitação imperfeita da vida. lá eu consigo amar no tempo certo enquanto na realidade, não.
eu sou poeta e não aprendi a amar.
Em janeiro publiquei um texto sobre o filme de Sofia Coppola que acaba de estrear no Brasil, Priscilla. Como eu já tinha escrito sobre Elvis no ano passado para o Valkírias, nada mais justo que comentar também o filme sobre a vida da esposa do astro durante o período em que se relacionou com o Rei do Rock. Leia no Valkírias.
O ano começou com algumas inconstâncias emocionais, e em meio à montanha russa com muitas quedas, uma grande alegria: meu novo livro ANIMA MUNDI está em pré-venda até o dia 17 de fevereiro pela editora Arpillera.
Anima Mundi é um termo em latim que significa “a alma do mundo”. O conceito cosmológico com origens na filosofia de Platão e que vem, ao longo do tempo, sendo incluído em diversas outras formas de pensamento resume aquilo que se alcança com a leitura deste livro. A alma do mundo é algo que talvez ninguém possa explicar mas um espírito palpável que todos conhecemos. Na estrada percorrida com a leitura desse livro, essa alma vai sendo exposta, poema a poema para que se possa experimentá-la, senti-la e, quem sabe entendê-la – ainda que a compreensão racional nem sempre se faça necessária.
Este livro está em pré-venda por R$49,90 + frete até dia 17 de fevereiro. Quem adquirir neste período receberá o brinde de pré-venda: uma carta de tarô que revela um poema e pode ser usada como marca página. Aproveite!
O livro pode ser adquirido no site da editora Arpillera. Moradores de São João del Rei NÃO PAGAM FRETE comprando por este link.
O livro está lindo, comprem ainda na pré-venda porque isso é muito importante para a publicação do livro.
Eu sempre penso nisso, pois seja quando escrevo ou quando ilustro, acabo colocando "pedaços" de pessoas ali. De alguma forma, elas ficam eternas seja pelo amor ou falta dele rs