#11 - PAPEL MOEDA, parte 2
Reflexões sobre a escrita em um mundo capitalista: soluções (complexas) para uma escrita mais humana
Este post é o segundo de uma série com pensamentos sobre o valor do trabalho de quem escreve. Se você ainda não leu a primeira parte, deixo aqui o post anterior:
Como complemento ao assunto, indico aqui o post que fiz em parceria com o perfil do Coletivo Margem, no qual comento a questão da inteligência artificial.
A segunda parte do post de instagram acima vai conversar um pouco mais com o assunto desse post que você está lendo agora, então fiquem de olho porque todos estes conteúdos, de certa forma se interligam.
SONHO QUE SE SONHA JUNTO
A primeira parte de PAPEL MOEDA relembra que:
a arte é uma necessidade
arte é trabalho físico, feito com o corpo e através dele para expressar ideias e emoções
artistas são operários da arte
em um mundo perfeito, a arte não seria mercadoria, mas neste nosso mundo real ela é e precisa ser remunerada de forma justa - o que é ainda um sonho
Fechei o artigo com uma pergunta e já antecipei a resposta:
Como viver esse sonho de mundo se o mundo continuar o mesmo?
É preciso sonhar junto com outras pessoas para criar uma nova realidade.
Em vários âmbitos, o único caminho para mudar qualquer coisa dentro de um sistema como o nosso é a mobilização coletiva. A jornada precisa ser traçada com consciência e paciência: consciência para entender o melhor caminho para todos, paciência para saber que o mundo é reescrito letra por letra, com a caligrafia de crianças sendo alfabetizadas. Sim, somos crianças experimentando e aprendendo a nova habilidade da coletividade, mesmo sendo nascidas em um mundo de individualismos.
Embora o percurso possa ser longo e o destino incerto, há no horizonte possibilidades que podem nos inspirar. A greve dos roteiristas e atores em Hollywood é o exemplo mais recente e noticiado de como, mesmo dentro de uma indústria exemplar do modelo capitalismo, é possível mudar as coisas. Foi simples? Não. Foram meses de negociações com empresas que não queriam ceder nada. É uma mudança ideal? Não, mas é o básico para seguir trabalhando de forma justa por enquanto.
Não vou me estender muito sobre estas duas greves que acabam de se encerrar com algumas vitórias significativas dos trabalhadores da arte audiovisual, mas acho que é interessante procurar saber sobre o desenrolar das coisas por lá, não só porque nos ensina sobre outras formas de mudar um pouco as coisas por aqui (e não só na literatura, que é o caso que esta edição discute), mas porque a maioria de nós também é consumidora do audiovisual, seja no formato de série ou cinema.
ORGANIZAÇÃO OU BARBÁRIE
O mercado, esta entidade sem rosto, na verdade tem as faces de homens brancos, cis, héteros e bilionários. O mercado sempre se adapta e se regula para favorecer a estes homens, que o manipulam e dominam. Enquanto eles são minoria, nós, trabalhadores (formais e informais, com CLT e contratados e também os precarizados) somos uma maioria que precisa se organizar em prol do que é nosso: se classe trabalhadora tudo produz, a ela tudo pertence.
O total domínio destas pessoas sem a nossa resistência é a própria barbárie: e sim, nós já vivemos em barbárie. Basta olhar as condições de vida da maior parte da população, mas nós nem vamos nos aprofundar nesta miséria neste texto. Vamos olhar apenas para a escrita como profissão: não é uma barbaridade assustadora que uma pessoa receba menos de 01 centavo por página lida na amazon ou apenas 10% do valor do livro escrito por ela?
Existem alguns movimentos já buscando se organizar, apesar do pouco tempo livre que temos, já que o capitalismo nos rouba dia-a-dia este bem tão precioso. Mas a mobilização precisa ser maior. É preciso conscientizar quem lê de que a arte não deve ser gratuita neste sistema capitalista pois é trabalho que visa a sobrevivência de quem escreve; é preciso cobrar por mais políticas públicas de incentivo à leitura que estejam casadas com valorização da produção literária; é preciso exigir impostos menores ou nulos para os livros e materiais ligados às demandas editorias; é urgente e necessário mais bibliotecas públicas de qualidade; é preciso estímulo sistemático para a formação de leitores críticos nas escolas.
É muita coisa. E é tudo pra ontem, mesmo que o processo seja lento e comece assim, só com as ideias circulando por aí. Tomando emprestado a frase de Mano Brown em Jesus Chorou, “se o barato é louco e o processo é lento, no momento deixa eu caminhar contra o vento.” Uma caminhada para ventilar essas ideias pelo mundo.
Precisamos do papel moeda circulando nas nossas mãos.
Essas lutas só são vencidas em conjunto, com pessoas envolvidas e comprometidas com essas mudanças. Esse texto é um convite pra que você converse com outras pessoas que escrevem sobre sindicalização e outros grupos organizados de escritores; é um convite para que você se organize e apoie organizações. É um convite para que você fale sobre (a falta de) dinheiro no mercado editorial com seus seguidores e leitores: todos precisam saber como é o interior da indústria, as condições de trabalho a que estamos submetidos enquanto classe e as injustiças que nos ocorrem. Se não contarmos nossa história, alguém contará e, neste momento, quem é dono dos meios de produção da escrita não está interessado por nossos direitos e avanços. Posso contar com você?
Para um problema complexo não há solução simples. Mas existe saída sim. Sempre há.
E por falar em problemas de escritores no capitalismo, minha crise profissional de novembro foi ter minha conta da Amazon deletada ao tentar corrigir um erro que o próprio site me induziu a cometer. Perdi todos os meus livros, avaliações e comentários e preciso de ajuda para recuperar este engajamento que impulsiona a divulgação do livro dentro do próprio site de vendas.
Peço que quem já leu deixe avaliação e comentário nas obras e quem ainda não leu pode aproveitar a promoção que vou estender até domingo 03/12! Todos os livros custando menos de R$3,00!
Emprestado e E as namoradinhas, Guilherme? estão custando R$1,99 cada e Lua em Escorpião, R$ 2,99!
Volto antes do fim do ano, então até logo!